sexta-feira, 28 de novembro de 2008

A éfemera

Ah!...Como a vida se prende
Nos ramos da ansiedade
Luzes e cores
Acções...
Ora presente, ora passado
Questionando a sanidade.

Tudo é vida...periclitante
Quando neste rosto, que é nosso fado
Ressoa o cântico do trovante
Anunciando:
-O rosto do futuro chegado.

Bebe-se quando já muito se está embebido
Os demais vicios
Que palpitam na língua
Acorda-se quando já tudo se tem esquecido
E pela janela, entra (só) uma ténue luz míngua.

Atónitos, ávidos de angústia
Abre-se a custo o baú da memória...
Que agora emperra!
Viram-se páginas...
...Retomam-se capitulos....
Do livro que em nós se encerra.

domingo, 23 de novembro de 2008

Sintoma crónico

Atinge, consome e corrói.
É faca que se espeta,
É coração que dói,
É arco e seta.

Envolta de tristeza
Doença do diabo,
Que se senta à mesa
E dita nosso fado.

Cresce a impaciência
E a agonia na vida.
É má. – Diz a ciência.
Diz a dor – É querida!

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Soneto III/IV

As luzes iluminam o caminho
Da sombra desenhada a traste escuro
Dueto que é a imagem deste mundo.

O sofrimento é tal de estar sozinho
Que exalta-se alegria do ser puro
Sou só sem o ser. Sou um poço profundo.

Pareço pouco e penso talvez porquê
Bom senso quando como o é viável
Daquilo construo isto. Cegos o vê
Do antes faço o depois do erro ajustável.

segunda-feira, 17 de novembro de 2008



Reticências...
Assim deixo este post.Para que dele seja feita a vossa vontade.
E sem mais vos deixo, ficai perdidos nas reticências de um olhar...
...de uma apaixonante apóstrofe emanada pelas vossas cordas, desenhada no afastamentos dos lábios e por fim, já estes juntos, culmina na interjeição suave de um suspiro...
...ou então para os mais ousados, deixem o redor reticente, pela irreverência de uma onomatopeia vinda das reticências desse tremor, que num aceso devaneio foi sentido e explodido, emergindo na sonora invocação do vosso profundo.
Sem mais meus caros me despeço, sem mais, com toda a emoção reticencial que me seja permitida empregar:


Ficai comigo, no lugar onde são mais fertéis os espaços entre cada um dos pontos que compõem a sinfonia de uma reticência do que em qualquer sensação alarve de espanto, que possa despontar um ponto final.


s/ título

Já não lembro os prados, meu amor
Agora que o coração se rodeou de fragas
Já não lembro porque me perdi por muros de xisto negro
Porque fiz por colher frutos do bosque e os escondi de ti.
Já não sei se de cesta cheia olhei para trás
Se olhei, não me lembro.

Estou absorto em bagas ébrias
Perdido no azul silvestre das sombras
Onde a solidão é ribeiro frio
Que corre os ossos, água entre as pedras.
As migalhas que me levavam a ti, comeu-as o bico do tempo.

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Estava eu sentada e atenta aos meus trabalhos quando subitamente uma voz fina e humilde me chamou. Assemelhava-se a um apelo de socorro. Quando levantei a cabeça e olhei na direcção daquela voz, deparei-me com uma pessoa a chorar. Dirigi-me a ela e não lhe disse nada, limitei-me a contempla-la, quando de repente, ela, num gesto brusco, me estendeu o seu caderno com um texto escrito. Quando acabei de o ler, o vazio que se tinha instalado em mim, encheu-se de palavras, pensamentos, citações...

Essa pessoa encontrava-se deprimida, preenchida de desespero, sem bússola, sem memórias, sozinha...completamente só. Sem saber o que dizer escutei atentamente o seu desabafo daquela alma desorientada. Só eu sei o quanto ela estava triste, só eu sei o motivo da sua tristeza.

Então um peso enorme abateu-se sobre mim, mas foi quando eu me lembrei de todas aquelas palavras que estavam dentro de mim e que finalmente ganharam um sentido, que eu ganhei ânimo para a ajudar a libertar-se daquelas correntes que a aprisionavam. No entanto, aquele ser nao se queria libertar, e eu, sozinha, não tinha forças suficientes para o ajudar.

Foi quando a palavra desistir começou a ganhar vitalidade em mim que aquele pedaço de carne imperfeita ganhou vida. Quando eu olhei para ela, ela esboçava um sorriso, e aquele simples traço facial fez regressar uma alma que se encontrava encurralada no turbilhão do mistério do ser.

domingo, 9 de novembro de 2008

*2

se voltarmos, será de carnes nobres o banquete de palavras

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Imbuído

Gritar de um torre
Gritar panóplias de sons,
E cores e ah!...Desejos
Gritar imbuído em desejos
Tal louco que em nada mais crê
Qual insanidade, qual irracionalidade,
Qual quê?
Sou bárbaro gritando forte
aos ouvidos de quem não vê!